quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019
sábado, 12 de janeiro de 2019
MISTER CHICO O HOMEM QUE VIRA PEIXE
Chiquinho Abreu, cunhado do Nélson Albuquerque, da padaria do Rabo da Gata, resolveu instalar um circo na cidade, juntamente com o Nílton, genro do Otelino, entre outros.
O
circo era simples, do tipo fundo de quintal, mas reunia razoável
plateia nas noites enluaradas. Localizava-se no antigo curral do senhor
Raimundo da Barra, logo ali, perto da barragem, próximo à saída para o
Araquém.
Havia
algumas boas apresentações, e os pagantes contribuíam com uma pequena
quantia pela entrada e, ao final de cada “show”, todos saiam
satisfeitos, pois riam demais, principalmente com as piadas do Chiquinho
Abreu, que representava o palhaço do circo.
Certo
dia, fazendo a propaganda do espetáculo seguinte, Chiquinho Abreu e
seus amigos saíram pelas ruas da cidade, anunciado a atração que iria
ficar na história. Diziam assim: “não percam hoje, o homem que vira
peixe”.
Chiquinho
Abreu era enfático nos dizeres “Não percam hoje, o homem que vira
peixe”. Nem os outros artistas do circo sabiam a origem do homem que vira peixe.
O Nílton, que era seu sócio maior, ignorava sobre “o homem que vira peixe”e , preocupado, perguntou no decorrer do dia:
- Chiquinho, cadê esse homem e de onde ele vem?
Chiquinho Abreu respondeu:
-Não se preocupe. Ele já está hospedado na minha casa e se preparando para o “show”. É um verdadeiro artista.
Pronto, o Nílton se tranquilizou.
Já
estava anunciada na cidade inteira a atração da noite: “O homem que
vira peixe”. Evidente que a população ficou admirada e ansiosa,
aguardando o novo espetáculo que, iniciado, tinha o Tizil (da dona Mazé
Alprimo), protagonizando o quadro “o homem vulcão”. Tizil colocava
querosene na boca, depois pegava duas tochas acesas e soprava, fazendo
uma enorme chama no ar. Depois vinha uma dançarina dançando lambada, o
Nílton também fazendo a sua parte, e mais uns três, cada um fazendo suas
apresentações.
O espetáculo acontecia, e Chiquinho Abreu, no picadeiro falava:
- Daqui a pouco, “o homem que vira peixe”.
O espetáculo estava quase acabando e Nílton não via nos bastidores do circo a figura do homem que vira peixe. Mais uma vez preocupado, dirigiu-se ao Chiquinho Abreu e lascou:
- Chiquinho, onde tá esse homem, rapaz, que não chega, pelo amor de Deus, tá todo mundo esperando?!
Com seriedade, Chiquinho disse:
- Tá lá na minha casa, tomando banho. Já ele chega.
Mais uma vez o Nílton respirou tranquilo.
Passados alguns minutos, toda a plateia esperando, aguardando.
Chiquinho Abreu finalmente disse:
- Senhoras e senhores, apresentaremos agora “o homem que vira peixe”, e mandou apagar as poucas lâmpadas de dentro do circo.
Todos
esperavam por aquele momento. Seria algo diferente, extraordinário,
porque num pequeno circo daquele, numa cidadezinha como a nossa, ter a
oportunidade de ver um quadro espetacular, “o homem que vira peixe”,
seria fascinante e inesquecível.
De
repente, as luzes se acendem e aparece um homem com uma frigideira na
mão. Dentro da frigideira vários peixes: carás, piaus, piabas, sovelas.
Era
o Chiquinho Abreu que, com movimentos rápidos, balançava a frigideira
para cima e para baixo, fazendo virar os peixes de dentro dela,
movimentos estes parecidos com os de quem está assando uma tapioca no
fogão a gás.
A
plateia ficou chateada e passou a vaiar o Chiquinho Abreu, que teve que
sair quase que escoltado do circo, se não, iria apanhar.
FERNANDO MACHADO ALBUQUERQUE
Professor
Coreaú-CE
Observação: Esse texto é uma adaptação, baseado em relato do próprio Chiquinho Abreu.
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